Cartas para Iwo Jima
Dirigido por Clint Eastwood
Escrito por Iris Yamashita, Paul Haggis e Tadamichi Kuribayashi
Em 1931 os japoneses invadiram a China. Durante este período de 1931 e 1945 eles mataram 15 milhões de chineses. Definitivamente mataram mais seres humanos do que o regime nazista e com certeza antes da Alemanha começar a matar Judeus.
O horror seguia os passos japoneses que pavimentaram as ruas com corpos e tripas, rios de sangue e cadáveres eram o resultado e a fome era uma de suas armas. Milhões de pessoas se tornaram escravas, outras se tornaram alvos de experiencias com Tifo, Antraz, cirurgias exploratórias sem anestesia e ao horror de serem usadas para testar as novas armas japonesas como o alcance das granadas e misseis.
Dizem que nem as lagrimas de todo o paraiso seriam capazes de lavar a terra dos horrores que os japoneses fizeram. Mas as piores desonras eram guardadas para as mulheres e crianças...
O Imperador Hirohito (ou Imperador Shōwa) foi um genocida cujos crimes de guerra chegam a ser maiores do que de Hitler ou Mussolini. Mas seu destino de ser preso e executado só foi totalmente mudado por um fato. No Japão, o Imperador não é nada menos do que DEUS. E assim o Imperador continuou governando o Japão até sua morte em 1989.
E meu texto já começa assim para que entendam o que deve ter passado pelos jovens do exercito japonês que tiveram a obrigação de defender os atos de seu pais. Me faz lembrar de uma frase de South Park:
Vocês podem estar certos pelos motivos errados ou errados pelos motivos certos.
E o filme fala exatamente sobre isso ao mostrar o ponto de vista japonês de uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra. A Batalha de Iwo Jima.
Clint Eastwood é um homem que gosta de desafios. E este filme foi um desafio e tanto ao mostrar a luta dos soldados japoneses contra a própria morte. Fazer um filme desses seria como fazer um filme do ponto de vista nazista. Mas Eastwood aceitou o desafio e fez um filme que nos faz questionar o que é certo e errado ao mesmo tempo em que questiona e reforça aquilo que o ser humano tem de melhor a oferecer. Mostrando o ponto de vista dos soldados forçados a lutar e a morrer por seu pais genocida!
Sem falar que o velho Clint fez o filme todo em japonês, para honrar os fatos históricos e fazer a plateia americana aprender a ler as legendas.
O filme mostra a aventura final de Tadamichi Kuribayashi e seus homens defendendo a ilha de Iwo Jima, último ponto de defesa antes dos americanos adentrarem o Japão. Ken Watanabe vive o simpático General Tadamichi em busca de defender a população local, ajudar todos os soldados em tuneis abaixo da montanha. Uma verdadeira mina de enxofre.
Mostra e questiona completamente a questão de morte honrosa. Ensinada na cultura japonesa como o máximo de glorificação. Focando o filme tanto sob a visão do General Tadamichi quanto na visão dos soldados mais novos e que praticamente não entendem o que aquilo significa. Principalmente um certo soldado Saigo. Que acompanha toda a ação como em espectador da guerra.
Um dos momentos que mais chama a atenção é quando o General Tadamichi resolve fazer o recruta Saigo correr que nem louco na praia enquanto os outros soldados achavam que ele estava ficando louco.
Hahaha, uma lição de vida sobre o fato de que todo mundo que precisa entender outro ponto de vista vai ser taxado de maluco. O General Tadamichi conseguiu assim entender como os soldados americanos iriam correr pela praia e formar uma estratégia melhor.
O filme tem o seu próprio ritmo lento que vai mostrando toda a angustia dos soldados e seus dramas. Assim como as suspeitas de que um soldado novo seria do serviço secreto japonês para delatar soldados com pensamentos contrários ao do império. O filme também mostra o Barão Nishi, um personagem claramente diferente de tudo aquilo que o império prezava por tratar bem seus homens e ser uma figura amigável e que distribuía o mesmo respeito que inspirava. Nishi é uma celebridade em seu pais por ser um grande atleta do Hipismo e trouxe seu próprio cavalo para a batalha...
O filme faz questão de mostrar que o Japão se tornou um pais de pensamento intensamente imperialista difícil de se viver. Fazendo muitos homens serem forçados a se unirem ao exercito.
E então o horror...
O ataque americano vem com tudo e o filme mostra todo o horror da guerra. Com soldados japoneses sendo praticamente exterminados e a esperança sendo abandonada a cada segundo de angustia.
A fotografia do filme praticamente perde as cores...
E mesmo assim, os japoneses não param de lutar até o final. Sendo mostrado visivelmente o confronto de honra com horror. Selvageria com piedade. Tragédia com humanidade.
Em certo momento, o soldado Saigo presencia o momento onde seu grupo inteiro se vê perante a derrota. E seu superior ordena o suicídio honroso. Onde soldado após soldado deveria puxar o trinco da própria granada e segura-la contra o peito. Quando se perde a noção de honra e o ser humano se entrega a loucura.
Temos momentos onde os japoneses capturam e executam um soldado americano assim como americanos executam soldados japoneses rendidos. Mas um momento chama a atenção quando o Barão Nishi captura um soldado americano e o trata bem. Mandando que ele seja cuidado e tratado por seus médicos.
Momentos esses que o diretor colocou no filme para que nós possamos questionar o que é honra de verdade.
Temos momentos genuínos como o capitão que resolve segurar um explosivo contra o peito e assim destruir um tanque. E como ele realmente se deita entre os mortos esperando e até gritando para que um tanque passe por perto. Temos o ataque suicida contra tropas americanas e até rituais antigos como o Seppuku sendo considerados...
Um filme visceral que não aposta no sangue e tripas, mas sim no questionamento de sacrifício e honra.
Quem está certo por motivos errados e quem está errado por motivos certos?
Uma obra prima de Clint Eastwood, continuação mais profunda de Conquista da Honra (Flags of Our Fathers) e com certeza um filme de guerra que questiona a noção da própria guerra assim como questiona a honra...
Por Marcio Strzalkowski
Força e Honra!
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